PACTO NORDESTINO PELA VIDA DA JUVENTUDE NEGRA
MANIFESTO
Felipe Marinho, poeta, jovem, negro, nos ensina que corações de jovens negros batendo, é legítima defesa. Fico a pensar quando esses corações se unem na defesa de todos os corações de pessoas negras do mundo, se reconhecendo mutuamente enquanto humanos e driblando as estatísticas das mais variadas mortes desses povos. Digo, sem medo e voz trêmula, que qualquer Aquilombamento de Juventude Negra que luta pelo reconhecimento e preservação das suas vidas, é a uma das maiores armas contra o projeto higienista/genocida o qual tentam submeter aos jovens negros/as. Instaurar a narrativa pública do Aquilombar da Juventude Negra, é enunciar-nos em primeira pessoa e fazer-nos narrador das nossas próprias trajetórias, reiteramos publicamente através do nosso organizar-se, que somos vidas, vidas vivíveis, vidas valiosas, vidas que importam! Gritamos que não somos futuros, como quando convém dizem eles, somos presentes e nos fazemos como tal. Aliás, é minimamente contraditório apresentar-nos enquanto futuro, quando nem o direito fundamental à vida nos é garantido!
Por essa razão, este grito que se soma a milhares de vozes, é um grito pela garantia da dignidade e da vida da Juventude Negra. Nossa fome não aceita as lavagens oferecidas pelos exploradores da modernidade, queremos e iremos Bem Viver, pois isso é nosso por direito!
O Brasil foi o último país do mundo a reformular a escravidão. Após, continua com a tentativa de sistematização de uma sociedade que pra eles seria verdadeiramente humana, a eliminação de vidas negras foi/é estrutural para o funcionamento da sociedade brasileira. São os preceitos eugenistas, esterilizantes, higienista, fundados no século XX que continuam a garantir e naturalizar o genocídio da população negra, em especial dos/das Jovens Negros/as.
Parte dessa política genocida tenta sustentar-se sobre uma narrativa fadada ao fracasso denominada de Guerras às drogas, narrativa que teve seu início por volta dos anos de 1971, ano em que o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, declarou ser as entorpecentes o “inimigo público número um”. O que com o passar do tempo se revela de forma óbvia que a droga que ele estava falando, é a droga de ter gente negra, pobre e periférica impedindo o desenvolvimento pleno das nações deles.
O crime de genocídio não se caracteriza somente por mortes letais, ele leva em consideração além dos assassinatos, os danos graves à integridade física ou mental, a submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial, medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo e transferência forçada de menores do grupo para outro grupo. Com isso, e como mostra os dados sobre as mais distintas formas de violência, percebemos o quão estão localizadas as vítimas destes problemas, e o quão essas violações estão endereçadas, racializadas, sexualizadas, e economicamente classificada. O que nos deixa sem dúvida, que o está em curso no brasil, é o genocídio da população negra, em especial dos/as jovens negros/as, por serem os corpos mais expostos à violência institucional. Projeto estratégico de controle e continuidade de estruturas opressoras, projeto de Estado!
Toda morte de jovem negro num país como este, é uma morte política, e é por essa razão que nos organizamos. A alma das nossas vidas, aquilo que chamamos de sonhos, foram/são forjadas na dor, e como nos ensinam os nossos mais velhos: as lições aprendidas dessa forma, nunca se esquecem.
Temos voz e iremos do campo à cidade construir o Bem Viver da Juventude Negra, garantindo suas especificidades, enquanto mulheres; quilombolas; indígenas e LGBTs, pessoas com deficiência e outras diferenças que se somam. Vamos juntos/as defender a vida da nossa Juventude!
GRUPO DE VALORIZAÇÃO NEGRA DO CARIRI - GRUNEC
RECID CARIRI/CE - REDE DE EDUCAÇÃO CIDADÃ
14/08/2018
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