Sábado passado, dia 04/02, estivemos (minha esposa Carla Dias e eu) na comunidade quilombola do Charco, no município de São Vicente Férrer/MA, que fica a 270km de São Luís para plantar um Baobá em nome do GRUNEC e Terreiro das Pretas.
Deitar um Baobá lá era um compromisso de anos, desde quando houve uma aproximação com a comunidade e a acompanhamos em algumas etapas de sua luta. Criou-se um apreço recíproco. Os quilombolas do Charco formam uma comunidade muito bonita, ativa e lutadora.
Este Baobá foi trazido do Terreiro das Pretas em março de 2019 para o Maranhão ainda uma pequena muda. Durante estes anos cuidamos e cultivamos até que ele alcançou a altura de 2,15m. A ideia era ter plantado muito antes, mas uma série de fatos levou a que ocorresse providencialmente nessa data.
O Baobá foi deitado no final da tarde do sábado em uma área bem propícia para seu crescimento nas proximidades de um açude para criação de peixes, junto da terra firme onde crescem os Babaçus e longe das áreas de baixada que encharcam e poderiam prejudicar a árvore.
O Baobá tem como guardiã a líder da comunidade Zilmar Mendes, uma grande lutadora pela defesa dos territórios no Maranhão, com trabalho e luta bastante reconhecidos. A árvore recebeu o nome de Flaviano, liderança histórica do quilombo do Charco que foi covardemente assassinado no ano de 2010 por pistoleiros a mando de grileiros em decorrência de sua luta pelo povo do Charco.
A solenidade simples, forte e memorável foi acompanhada pelas lideranças do território que verbalizaram seus agradecimentos e sobre suas lutas. Falei em nome do GRUNEC e em referência ao Terreiro das Pretas sobre o que para nós significa os Baobás e a mística que envolve o plantio e suas conexões ancestrais e afetivas.
No momento da solenidade Carla Dias fez a entrega para as lideranças de uma cópia da sua dissertação de mestrado, na qual, levantou dados e discutiu a trajetória de luta do Charco por seu território junto ao sistema jurídico. O texto é intitulado: “O direito territorial quilombola e a duração razoável do processo: um olhar sobre o processo de regularização territorial da comunidade quilombola de Charco-Juçaral, em São Vicente de Férrer-MA.”
Era uma tarde chuvosa, mas no momento da solenidade do plantio abriu-se o céu com um belo entardecer. Ao final de tudo um arco-íris gigante apareceu no céu e uma de suas pontas se projetou, para alegria de todos, sobre o local do plantio da árvore, a partir da perspectiva do caminho de saída do terreno em que o Baobá foi deitado, justamente no momento em que deixávamos o local.
Para conhecer mais sobre o Quilombo do Charco:
https://aldirdantas.com/noticias/martirio-do-lider-quilombola-flaviano-pinto-neto-assassinado-pelo-latifundio-dominante-no-maranhao/
https://www.business-humanrights.org/pt/%C3%BAltimas-not%C3%ADcias/brasil-l%C3%ADder-do-quilombo-charco-%C3%A9-assassinado-em-terra-com-hist%C3%B3rico-de-conflitos-agr%C3%A1rios-prestes-a-ser-titulada-afirma-advogado-da-comiss%C3%A3o-de-dhs-da-oab/
https://www.brasildefato.com.br/2017/04/17/quilombola-da-comunidade-do-charco-e-morto-com-tiros-nas-costas/
Seguem algumas fotos:
